sábado, 21 de julho de 2012

Letramento

 

 

 

 

 

Rosane Porto



Houve um tempo...

Um tirano baixou um decreto:

As letras viraram traços inertes na folha pálida

De onde a vida também se expirara.

Traços... reproduções, desenhos, cópias.

E a gente que copiava virou cópia de outras gentes.

E a gente que lia, calou-se diante do mundo óbvio.

Silêncio... faz tempo!



Mas não puderam te calar, menino!

No teu sono embalado pelas histórias

Fizeste do livro teu refúgio, teu amigo, tua casa,

E assim descobriste o segredo:

Palavra vira brinquedo e ambos têm gosto de infância.

E agora, um pouco maior, mas com alma de criança,

E agora, cidadão do mundo, lês o jornal, ouves a notícia.

E ao te perguntares por que a Humanidade anda tão triste...




Percebes, menino, que a palavra tua, num momento,

De brinquedo virou impacto.

Alegra-te! A isto um sábio chamou letramento.

Letramento, menino, tu me perguntas: O que é?

Deixo que os sábios te respondam.

Talvez, te digam eles, com sérias palavras de filósofos:

Letramento é dimensão social.

É quando a escrita e a leitura são expressão, comunicação.



Letramento é exercício de cidadania. Tfouni diria.

Sem dúvida, profundo sentido de humanização.

Paulo Freire: Letrar?  É alfabetizar. É processo de gentificação.

Emília Ferreiro: Letramento? Não!

A escrita da escola é a escrita da vida. Tudo é alfabetização!

E quem sabe Rubem Alves nos falasse: Encarnação...



Sóbrias, distintas, nobres são as palavras dos sábios,

Mas tu me dizes, menino, que não te tocam o coração.

Então – sugiro – vamos perguntar às crianças.



Espontâneo, um outro menino nos sorri:

Letramento? Hum!!!! É um doce feito de letras!

Tem sabor de saber: o mais doce que já inventaram...

Mas porque ainda tu insistes em ouvir minha resposta,

Respondo-te, assim, singelamente...

Não, não somos considerados sábios, eu sei.

Mas somos, simplesmente, meninos e meninas...



Letramento? Queres saber ainda?

Em nosso dizer de criança, de aventura, de inexperiência

Letramento... São as violetras!

Violetras... Letras que explodem nas páginas pálidas

E vão enchendo de cores os livros

E vão derrubando os decretos dos tiranos, dos silêncios...

Letras que desabrocham e viram vida

E nessa mistura mágica, a gente vira gente, de verdade.


Especialmente para a Professora Lídia Allebrandt...
Você testemunhou de uma forma intensamente linda que "letra é coisa viva"... e eu continuo acreditando... Obrigada! Sua presença é constante em todos os meus dias!




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